



O professor Francisco Carlos Faria Lobato atenta para a relação entre a trajetória do professor Carneiro Viana e a da história da Escola de Veterinária, citando, também, sua participação no corpo da Secretaria da Agricultura do Estado de Minas Gerais e suas grandes contribuições na área de Nutrição Animal.
Prof. José Ailton da Silva

O contato do professor Carneiro Viana com o professor e também ex diretor José Ailton da Silva ocorreu por volta do ano de 1975, quando Viana lecionava Nutrição Animal no curso de graduação da Escola de Veterinária:
Prof. Lúcio Carlos Gonçalves
“Assim que eu passei a fazer parte do corpo docente da Escola de Veterinária, eu sempre tive uma convivência muito saudável com o professor Viana.” Carinhoso, prof. José Ailton relembra com alegria o carinho do professor Viana: “Sempre que me via, ele me perguntava: ‘Como vão os três Ts?’, que são meus três filhos que possuem nomes iniciados com a letra T.
Tinha um conhecimento muito grande em sua área de atuação acadêmica e também deixou na área da pesquisa um legado muito grande, em relação à pesquisa, por exemplo, do uso da cana de açúcar e da ureia na alimentação dos bovinos, que é utilizada ainda hoje pelos produtores rurais. (...)Depois que entrei na Escola da Veterinária é que fiquei sabendo que ele tinha sido Secretário da Agricultura do Estado de Minas Gerais. No final década de 60 e início de 70 havia muito envolvimento com os produtores rurais para cultivar capineiras, e produção de silagem e depois eu conheci o professor Viana e ele que incentivou isso como Secretário da Agricultura.
Ele, além da pesquisa, do incentivo, além das orientações e das publicações, ele ainda escreveu dois livros: “O Terceiro mundo não é assim, está assim” e também um outro sobre a Revolução Cultural Brasileira, ou seja o professor Viana, era uma pessoa de um conhecimento enorme. (...) Certa vez quando ele estava escrevendo o livro ele foi perguntar para mim sobre as zoonoses que existiam no Brasil, que acabou virando um capítulo do livro dele, onde ele fala sobre as zoonoses.
No meu período de diretor, eu tive o privilégio de convidar os ex-diretores para irmos até a Embrapa para conseguir bovinos para a montagem de uma produção de leite na Fazenda de Igarapé e o professor Viana foi junto. E nós conseguimos os bovinos, a produção de Leite de Igarapé é uma realidade. (...) Tive o prazer também de, no meu período de diretor, o professor Viana receber o título de professor emérito na comemoração dos 60 anos da Escola de Veterinária. Ou seja, por tudo isso, pelo carisma dele, pelo conhecimento, pela pessoa amiga e culta e de uma enorme simplicidade é que a comissão dos 90 anos, da qual eu faço parte, recomendou à Escola de Veterinária a criação da Medalha José de Alencar Carneiro Viana. (...) Ele entrosava com todos, alunos, professores, técnicos administrativos. (...) Ele era uma pessoa carismática, amiga, de uma simplicidade enorme, uma pessoa querida por todos. Era uma figura espetacular. "
O Professor Midelvirson Oliveira relata ter tido o primeiro contato com o professor Carneiro Viana quando entrou para a Escola de Veterinária, época em que Viana era diretor. Segundo Midelvirson, Viana era uma ‘pessoa nobre, alegre e aberta para conversar com qualquer um’. (...) Ele viveu para essa Escola, no Departamento de Zootecnia (DZOO), (...) sempre estava dando palestras na Escola, e eu assistia a todas elas, sempre o admirei muito. Quando ele se foi, foi uma perda muito grande, ele é uma daquelas pessoas que se vão mas ficam para sempre em nossa memória.
Ele ainda destaca as contribuições do professor Carneiro Viana, não só na área da Medicina Veterinária: “No aspecto social, ele teve vários trabalhos, sempre foi um estudioso do assunto, ele pensava muito em política universitária, política de educação social. Muito comunicativo, competente, sempre lia demais, sempre que no seu gabinete, estava debruçado sobre livros. Ele estudava muito e se mantinha atualizado dentro dos interesses dele. Já no final de sua vida, ele já não dava aula, mas continuava a orientar alunos e professor e a atenuar ânimos internos. Ele fez parte de um elenco que constituiu o alicerce desta escola.”
Posteriormente, nove anos após finalizar o mestrado, o professor Lúcio Gonçalves entra para o corpo docente da Escola e substitui o professor Viana:
“Então, a disciplina dele que era alimentos e alimentação. eu assumi essa disciplina logo após o professor Viana ter deixado de dar aulas. Ele parou de lecionar e eu assumi essa disciplina de alimentos.”
Lúcio ressalta que foi uma responsabilidade grande, mas que o professor Carneiro Viana já havia o preparado bem:
“Eu fui aluno dele nessa disciplina durante o mestrado, ele passou o material e discutiu comigo como que ele achava que a disciplina deveria funcionar, foi fácil. Então ele tinha uma boa didática assim (...) ele tinha um conhecimento muito grande e uma vontade muito grande de ensinar. Além disso, ele ajudava muito a gente na sala dele, fora de sala de aula, principalmente fora da sala de aula, porque ele aposentou-se e ainda continuou no departamento por vários anos. (...) A pós-graduação foi ele que criou. Quando eu cheguei a pós-graduação da escola tinha nove anos. Era uma menina ainda. E ele tinha uma influência muito grande.”
O professor Lúcio conta que mesmo apesar de uma inteligência notável, em seu processo de escrita de livros, professor Viana sempre pedia a opinião de seus colegas, e tais livros tinham uma perspectiva social inédita e que buscavam apontar caminhos que solucionassem vários problemas acerca do subdesenvolvimento brasileiro: (...) Fiz revisão de alguns capítulos pra ele. Então conheço muito bem o livro com alguns capítulos que ele pedia pra fazer a revisão dos capítulos porque, o professor Viana era um professor diferente, ele tinha uma preocupação muito grande com o social.
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Ele foi mestre realmente porque ele ajudou muito o produtor. Você sabe o histórico dele: passou pela Secretaria de Agricultura, foi diretor da Escola e ajudou muita gente a se firmar profissionalmente e ele tinha uma preocupação muito grande com o produtor, de produzir tecnologia, que chegasse até o produtor. (...)Ele tinha uma visão muito muito boa ali. Por que o Brasil era subdesenvolvido? Como a universidade poderia ajudar a solucionar esses problemas?
A importância do professor Viana, notada por todos, destaca-se principalmente na área de Nutrição Animal, com um método inovador de alimentação dos bovinos no período da seca, em que os animais costumavam emagrecer por falta de pasto:
“O professor Viana foi muito importante dentro da nutrição animal porque foi o primeiro a chamar atenção para a necessidade de suplementação de bovinos e da dieta de bovino no período seco. Hoje, isso traduz-se nos famosos proteinados, que são comercializados. Ele foi o pai desse processo. Ele foi o primeiro que sugeriu isso.. Além, é claro, de montar uma pós-graduação que foi ou ainda é uma das melhores do Brasil. De uma importância muito grande, Viana era reconhecido no país inteiro como nutricionista, até porque ele passou por diversos cargos também, mas eu gostaria de chamar a atenção da formação dele, que ele saiu daqui e foi fazer doutorado nos Estados Unidos, já era um passo à frente da geração.”
Finalizando, Lúcio ressalta a honestidade e responsabilidade do professor Viana:
“O que eu gostaria de falar é que ele foi exemplo pra muita gente, porque mesmo depois de aposentado, quando ele continuou escrevendo. Impressionante os horários certinhos de chegar, isso era exemplo pra muita gente nova que tava chegando. (...) Pra mim a honestidade é base de todo o processo da academia e ele era honesto. Sempre, sempre. Mas era carinhoso, ajudava muita gente, tinha comigo um carinho especial. Eu recordo ele com muita saudade.”
Prof. Midelvirson Oliveira
O Professor Lúcio Carlos Gonçalves conheceu o Professor José de Alencar Carneiro quando veio à Escola para fazer a seleção de mestrado. Na época Viana era professor do DZOO.
Prof. Mônica Pinho Cerqueira
Uma cena muito me marcou dele já com mais de oitenta anos aqui na escola todos os dias com a garrafinha de café dele na mão e procurando se atualizar em tudo, inclusive no celular. E eu queria contar uma passagem: eu não me esqueço no dia que ele foi no meu gabinete lá no Departamento de Tecnologia e Inspeção de Produtos de Origem Animal (DTIPOA). E me perguntou se eu poderia dar aula pra ele sobre como usar o celular. Imagina gente, estou falando de uma pessoa com oitenta anos ou quase isso. Falei: “Professor, claro!” E como isso chamou a minha atenção. Com a idade dele, com todo o conhecimento dele, ter a simplicidade e a vontade de aprender mais e de se atualizar.
Então, a partir daí a gente marcava três vezes por semana, por exemplo, no gabinete dele. Eu ensinava para ele como que criava a agenda, como que colocava os contatos. E um episódio assim, que era muito interessante: eu fazia teste com ele no gabinete dele. E chamava de teste, falava: “professor, agora eu vou fazer uma ligação pro senhor, uma ligação teste.”. E eu sentava do lado dele, pegava o meu telefone, ligava pro telefone dele: “Alô, professor Viana, tudo bem com o senhor? Aqui é a Mônica, lá da Tecnologia.” E ele atendia como se eu estivesse em outro lugar e conversava comigo do meu lado. Exatamente pra poder aprender a usar o celular.
Então isso marcou também muito a minha trajetória aqui na Escola de ver como que as pessoas, mesmo que brilhantes apresentavam essa simplicidade e a vontade de aprender sempre. Então eu quero destacar exatamente isso no professor Carneiro Viana. Pesquisador brilhante referência em Nutrição Animal no Brasil e uma pessoa que o tempo parecia que não passava, porque ver uma pessoa já com a idade dele publicando mais livros sempre motivava todos nós professores mais jovens a entender que a vida não pode parar, à medida que o tempo passa a gente tem que continuar com vontade de viver, e eu acho que esse foi o maior legado que ele deixou pra nós. O exemplo. Então, simples, brilhante e de uma delicadeza impressionante. Fica aqui a minha grande homenagem ao nosso querido. Carneiro Viana. O Vianinha. Muito obrigada professor.
Falar do professor Carneiro Viana é um desafio mas ao mesmo tempo um motivo de grande alegria. Porque nós estamos falando de um ser humano diferenciado, sensível e o que mais me chamava atenção. Além de ser uma grande sumidade na Nutrição Animal, me chamava muita atenção a simplicidade dele. A simplicidade em tudo. Inclusive na maneira de ver o mundo, de ver a veterinária, de ver a produção animal. Então ter sido aluna do professor Carneiro Viana, depois como pesquisador e como colega na escola de veterinária da UFMG pra mim foi motivo de muita alegria porque como eu disse era uma pessoa que todos gostavam. a quase todos os sites.


Prof. Francisco Carlos Faria Lobato
Carneiro Viana, mesmo depois de aposentado, era assíduo na Escola, conta o professor Francisco Lobato, sorridente, e relata ainda que juntamente com a presença do ex diretor Leônidas Magalhães, reuniam-se para conversar e trocar experiências.
Comicamente, Lobato relata que o professor Carneiro Viana à sua moda mineira, sempre estava com uma garrafa de café nas mãos.
Professor Walter Motta

Professor José de Alencar Carneiro Viana, Carneirinho como carinhosamente era conhecido, já que na mesma ocasião de sua brilhante e reconhecida passagem como docente da Escola de Veterinária da UFMG, existiam outros “Carneiros” no Departamento de Zootecnia como o Professor Geraldo Gonçalves Carneiro, o
Carneirão e os Professores Adilson Martins Carneiro e Paulo Roberto Carneiro. Quando cheguei como docente nesta Universidade em 1980, Carneirinho foi um mentor que muito iluminou meus caminhos, principalmente no campo político profissional da Zootecnia e nos embates de desenvolvimento da profissão de Zootecnista e da própria Zootecnia como ciência. Carneiro Viana foi quem recebeu Octávio Domingues, Patrono da Zootecnia brasileira, para que na antiga Universidade Rural do Estado de Minas Gerais, UREMG, em 1944, proferisse no âmbito da já prestigiosa Escola de Veterinária, a criação de um curso de graduação em Zootecnia que desafortunadamente nunca sucedeu. Mesmo assim, Carneirinho nunca desanimou da empreitada e promoveu eventos e debates sobre a proposta até que em 1997 é nominado pela Associação Brasileira de Zootecnistas com o título de Zootecnista do Ano. Carneiro Viana era e ainda é admirado como um dos ícones da Zootecnia brasileira que deixou um legado muito significativo.
Uma das marcas pessoais notáveis de Carneirinho era o humor crítico. Sabia como ninguém fazer uma bela análise da conjuntura política sempre com uma pitada de sarcasmo e inteligência.
Algumas vezes ele próprio se constituía em um personagem distraído de histórias e estórias contadas pelos corredores, mas todas com respeito e admiração. Pareciam ter saído de livros de humor. Em uma delas, diziam que ele, o Professor Herbert Viana e o Professor José Antônio de Figueiredo Veloso foram tomar café na cantina da Escola. O Professor Viana sempre pagava a conta, mas, o Professor Veloso se adiantou e pagou o café de todos que estavam à sua volta. Ato contínuo algo o distraiu no momento que a atendente dava o troco. O Professor Carneiro muito inocentemente pegou o dinheiro e colocou no próprio bolso sob o olhar surpreso de Herbert e Veloso. E continuou a conversa como se nada tivesse ocorrido e continuaram andando com “cara de paisagem” sem que houvesse coragem de dizer que daquela vez foi outro o pagador. Hilária situação!
Outra ocasião, o Herbert que sempre usava terno e dividia um certo ambiente com Carneirinho notou que seu terno havia “sumido” da cadeira onde havia deixado e que quando olhou o velho mestre indo embora estava vestido com seu paletó e deixou o dele em uma cadeira. O problema é que o Herbert tinha quase 1,90 m e o professor Carneirinho pouco mais que 1,60 m. Imaginem a Cena! Muitas outras passagens tinha o professor Carneirinho como referência à distração, porém, não conheci ninguém mais atento e observador, me brindei por ter tido a oportunidade de conviver, aprender e até colaborar um pouco com o grande mestre quando tinha algumas dificuldades com os recursos da informática que ele sempre, pacientemente, seguia tudo bem planejado e anotado. Algumas pessoas não somente são diferentes como também fazem toda a diferença, Carneirinho era um desses!